No dia 6 de junho, é comemorado o Dia D, que marca a invasão da Europa pelas tropas aliadas em 1944, iniciando a libertação do Oeste europeu do jugo nazista, imposto por Adolf Hitler e sua alcateia de zumbis sedentos de sangue. Tarefa completada de forma contundente no lado Leste pela União Soviética, país que perdeu mais pessoas na carnificina mundial.
A Europa de hoje ainda lambe feridas e cuida de cicatrizes que podem reabrir com os ecos de um passado violento e triste. A União Europeia surgiu em 1992 na esteira da Comunidade Econômica Europeia. Iniciou-se com 12 nações e hoje tem 27 membros. Seu maior objetivo é assegurar a convivência pacífica entre as nações e povos diferentes entre si que formam a Europa, mas essa união também proporciona uma unicidade de práticas comerciais, uma moeda comum, o Euro, a livre circulação entre os países com passaporte único e o comércio privilegiado entre seus membros. Também promove acordos econômicos e financeiros com outros países ou blocos econômicos estrangeiros. Até hoje conseguiu manter o seu objetivo principal: desde sua formação nenhuma guerra foi declarada entre países membros da União Europeia. Por isso recebeu o prêmio Nobel da Paz, em 2012. Escrevo este texto no dia 6 de junho e começa hoje a votação para o Parlamento Europeu, que acontece a cada cinco anos.
As eleições deste ano são fundamentais para assegurar a existência da UE como ela é hoje. Assim como acontece em vários estados-membros em suas eleições parlamentares locais, está previsto nas pesquisas um aumento substancial das bancadas de extrema-direita, o que não é um bom presságio. Nem para a Europa, nem para o mundo. Governos nacionalistas detestam, por definição, qualquer associação permanente com outros estados-nação. Uma União Europeia dirigida por nacionalistas tende a perder sua influência sobre os países-membros. É só lembrar da Grã-Bretanha com o seu estouvado Brexit. O Brexit foi orquestrado em 2016 por um político obscuro, na época presidente do Partido de Independência do Reino Unido chamado Nigel Farage. Os ingleses votaram em massa a favor da saída do bloco europeu num referendo. Hoje ele é líder do também nanico Partido Reformista, de extrema-direita. A economia inglesa está na pindaíba e o primeiro-ministro conservador pediu demissão. Pois é.
Na realidade é um momento crucial da história europeia, pois já temos o senhor Putin batendo na porta dos fundos, só esperando que algum aloprado líder europeu venha abri-la para que ele e seus tanques entrem de uma vez e atrasem o relógio histórico em cem anos.
Inflexão climática
No dia 5 de junho festejaríamos o Dia Mundial do Meio Ambiente, porém a tragédia no Rio Grande do Sul foi como um choque elétrico de alta voltagem aplicado num país que tem o privilégio exuberante de possuir riqueza natural tropical e equatorial, mas está na posse de uma população ainda mal acostumada pela fartura à sua disposição, que acha que isso nunca irá acabar. Como um aviso divino para os falsos crentes e negacionistas que nos dias de hoje pululam por aqui como percevejos em cama suja, a Natureza mostrou o que o desleixo, a imprudência e a incompetência podem provocar, com a catástrofe que dura mais de um mês nas terras gaúchas.
Dizem os mais velhos, apesar de hoje serem pouco ou nada escutados, que quem não ouve conselho, ouve coitado e quem planta ventos colhe tempestades. Mas agora tudo é novo. Novo é não acreditar na Ciência. Novo é negar a Inflexão Climática. Novo é seguir quem nega os valores da vida, da inteligência, da cultura, da convivência e da compaixão. Pois é, a nova Natureza também pode ser muito cruel quando é provocada.
No dia 14 de maio, no Rio Grande do Sul, 539.000 pessoas de todas as idades estavam em situação de desalojamento. 78.000 estavam em abrigos improvisados. Pouca coisa mudou. Quase duas centenas de vidas perdidas, dezenas de milhares de famílias que perderam para as águas sujas seus bens materiais, seus sonhos, suas lembranças. Dois terços das terras agricultáveis de um dos estados mais produtivos se tornaram terras inúteis para o cultivo. Cidades inteiras foram destruídas, mais de duzentos mil veículos terrestres arrebentados em perda total. Um aeroporto internacional destruído. Um terço da capacidade de atendimento da saúde comprometida, com metade disso sendo de atendimento de alta complexidade. Uma epidemia de leptospirose que se desenha, junto com outras doenças provocadas pela lama acumulada. Praticamente um ano letivo perdido, centenas de escolas destruídas e outras tantas com todo o mobiliário e instrumentos inutilizados. E uma perda de arrecadação estimada pelo governo gaúcho em mais de dez bilhões de reais.
O governo federal e a maioria dos brasileiros de todo o país compreenderam de imediato a urgência do atendimento e de ajuda aos gaúchos, mas mesmo com toda essa presteza, muitos bilhões de reais terão que ser desembolsados, principalmente pela federação para que ao menos a necessidade de moradia, saúde e alimentação seja minimamente fornecida à população. A recuperação das terras de plantio deve começar ainda este ano, mas a previsão é de pelo menos três anos para que a produtividade volte para níveis próximos aos conseguidos anteriormente.
Enfim, que os gaúchos consigam recuperar logo seu estado, mas que prestem mais atenção e cuidado a sua terra e a quem apoiam daqui para frente.