Sundar Pichai, CEO do Google, apresentou no principal evento anual da empresa, o Google I/O, a incorporação do Gemini, a ferramenta de Inteligência Artificial Generativa da marca, ao mecanismo de buscas que detém 90% do mercado mundial. É a tentativa de manter a hegemonia do Google, pelo menos nos mecanismos de busca, diante da crescente ameaça da Microsoft e seu ChatGPT, além da atrasada Meta, de Zuckerberg,. Agora, incorporado ao Google, o Gemini é parte da Search Generative Experience (Experiência de Busca Generativa).
A concepção da ferramenta mostrada por Sundar Pichai mostra uma interessante mistura de mecanismo de busca com um “faz-tudo” organizador e classificador. Segundo a empresa o novo buscador integrará resultados das buscas com inteligência artificial generativa é uma forma de fazer com que a IA faça o “trabalho braçal” das pesquisas para o usuário. O recurso foi chamado de “AI Overview” (“Resumos de IA”, em português). Trocando em miúdos, ao fazer uma pesquisa o usuário não receberá apenas os links mais relevantes (ou os mais pagantes, no caso) que ficarão abaixo de um conteúdo gerado pela IA. Um pai poderá solicitar dados organizados conseguidos de outros aplicativos do Google. Um exemplo mostrado pela empresa foi a separação, classificação e exibição de uma relação de emails enviados pela escola ao pai de um aluno, sem que ele precisasse abrir o Gmail para fazer essa classificação.
Para dados conseguidos fora dos acervos de aplicativos do Google, a ferramenta irá resumir o conteúdo de fontes diferentes, juntando-os de forma coerente numa resposta pronta. Exemplo, ao solicitar uma busca de dados relacionados ao aquecimento global em 2023, o pesquisador receberá um ou mais textos sobre o tema, gerados pela IA do Google. As novas habilidades do navegador estão à disposição do público estadunidense desde terça-feira, 14 de maio. O restante do mundo, Brasil incluso, deve ser incluído aos poucos, mas a empresa prevê pelo menos um bilhão de usuários até o final de 2024.
Parece muito com o modo que acontece quando se solicita textos ao ChatGPT. Os links de matérias e artigos nos quais a IA se baseou para gerar o conteúdo mostrado, só aparecerão abaixo da resposta da IA na página de busca. Mas é aí, nesse tipo de resposta a uma consulta, que joga para segundo plano os links onde estão as matérias, textos e artigos nos quais o mecanismo do Google se baseou, é onde a roda pega, a porca torce o rabo e o padre chama pra briga.
Acontece que o Google fatura com tudo o que puder, pixel a pixel, no espaço ocupado pelo navegador na tela do PC ou do celular. Ao colocar um texto longo com a resposta a uma consulta, vai querer compensar faturando logo abaixo nos links pagos por patrocinadores, links esses ligados ao assunto pesquisado. Os links de sites de jornais, revistas e outras fontes que não pagam ao Google vão ser escanteados e chutados para o final da página ou para a próxima página, que é aquela que ninguém acessa ao consultar alguma coisa.
Dessa forma, ao solicitar uma busca de dados relacionados ao aquecimento global em 2023, o pesquisador receberá um ou mais textos sobre o tema, gerados pela IA do Google. Os links de matérias e artigos nos quais a IA se baseou para gerar o conteúdo mostrado, só aparecerão abaixo da resposta da IA na página de busca. Ou seja, o tráfego gerado a terceiros (jornais, revistas, etc) que são os produtores do conteúdo original será reduzido praticamente a zero, enquanto o Google se apodera desse conteúdo e fatura o que quiser com ele, sem dividir com ninguém. Melhor negócio que esse, impossível.
As empresas geradoras de conteúdo jornalístico e revistas que publicam textos acadêmicos entraram em guerra contra o Google e se preparam para longas batalhas judiciais para obrigar a empresa gerida por Sundar a pagar uma bolada respeitável até mesmo para uma Big Tech. A Microsoft (Copilot) e Open AI (ChatGPT) já enfrentam o Grupo Times, dono do New York Times que acusam “as empresas de tecnologia de explorarem seu conteúdo sem permissão para criar seus produtos de inteligência artificial”, além de afirmar que “as ferramentas (de IA) foram treinadas com o uso de milhões de dados do “Times”… e se baseiam nesse material para fornecer respostas às solicitações dos usuários”.
E mais afirma no processo que: “As ferramentas de IA desviam o tráfego que de outra forma iria para os sites do “Times”, privando a empresa de receitas de publicidade, licenciamento e assinaturas”. O “Times” pede indenização, além de pedir ao tribunal que impeça as empresas de tecnologia de usarem seu conteúdo e que destrua conjuntos de dados que incluem o trabalho do “Times”. (1)
Os outros grupos de mídia só estavam esperando o anúncio do Google para ver se havia alguma oferta diferente da empresa de Mountain View. Mas o que veio foi pior do que o esperado. Então, agora vai começar a gigantesca batalha sobre o direito autoral entre as Big Techs e as gigantes dos grupos de comunicação. Palpite sobre julgamento, ainda mais lá na terra do Titio Trump, não dou. Mas arrisco que daqui a um ou dois anos teremos um grande acordo entre todos, com bilhões transitando de um lado para encher as burras do outro, ninguém vai pra cadeia e os advogados de um lado e do outro ganham o bastante para se aposentar em vinte vidas cada um. Bem no estilo da “justiça” dos Estado Unidos.
- – Fonte: Valor Investe – site – 27/12/2023 14h06 Atualizado há 4 meses