Que não é, o que não pode ser que / Não é o que não pode ser que não é O que não pode ser que não / É o que não pode ser que não (é) – Canção de Arnaldo Antunes – Titãs.
- Oi querido, chegou cedo hoje.
- Oi – coloco o guarda-chuva no apoio e troco os sapatos apertados pelo chinelo macio deixado atrás da porta. Entro em casa enquanto ela fala.
- Seu banho está preparado. Deixei a temperatura da água em 40 graus, como você gosta para um dia nublado como hoje.
- Ótimo – respondo enquanto mudo a roupa de trabalho por um calção e uma camiseta, troco o chinelo por um par de “slip ins”, subo na ergométrica e pedalo. Começo devagar e vou acelerando aos poucos. Quando chego à velocidade de cruzeiro, pergunto para ela:
- Você viu se aquelas duas séries que me interessaram já estrearam?
- Sim. Vai assistir uma delas hoje? Já tenho aqui um resumo das duas e algumas avaliações de sites especializados. Posso reproduzi-los agora, se quiser.
Respiro fundo e paro de pedalar antes de dizer que sim. Tiro as roupas para ir tomar banho. Na porta do banheiro, me viro e pergunto:
- Uma coisa que estava me esquecendo. Esse robô que compramos para a
limpeza é bom mesmo? Notei que tem poeira sobre a mesinha do escritório e tinha um par de meias usadas caído perto da cama.
- Desculpa querido, é que esse modelo precisa de algumas regulagens para ter um funcionamento ideal. Acredito que amanhã ou depois de amanhã, no máximo, estará perfeito.
- Ótimo – fico uns segundos observando sua imagem, ruiva e perfeita na porta do quarto. Ela percebe e sorri maliciosa:
- Está me olhando assim por que? – abre um sorriso maior e finge estar meio encabulada.
- Não quer vir tomar uma ducha comigo? – brinco.
- Bem que eu gostaria – ela ri – Mas sou apenas um algoritmo em forma de holograma – Mas – faz uma pequena pausa -… quem sabe lançam uma nova versão minha em breve?
Abro a ducha e grito ao entrar na água tépida:
- Oba! Serei o primeiro comprador.
Escuto a gargalhada cristalina que solta enquanto seu holograma se desfaz lentamente no ar. Antes de sumir, ouço sua voz carinhosa:
- Seu bobo…
Para responder ao anúncio da concorrente Alphabet da junção do Google com o Gemini, como foi descrito aqui na semana passada, a OpenAI, produtora do ChatGPT mostrou a carta que tinha na manga para neutralizar a iniciativa da concorrente. Trata-se do novo ChatGPT 4.o (sim é assim mesmo, a letra “o” em vez do “zero”), traz funcionalidades que acrescentam mais acessibilidade ao aplicativo. Além de reconhecer a voz, ele pode distinguir algumas “emoções” embutidas na voz humana, como tristeza e alegria. Também pode acompanhar passo a passo e orientar a resolução de problemas, gerando aprendizado e não apenas entregando resultados prontos, o que é ótimo para usar em educação. Aceita comandos por voz bem mais complexos que a Alexa da Amazon, que deve reagir logo a essa iniciativa da OpenAI, pois corre o risco de ser defenestrada do mercado rapidamente. Também é capaz de atuar como intérprete, quase simultâneo, quando duas pessoas de linguagens diferentes conversam normalmente. É como se você tivesse contratado um intérprete humano. E mais algumas funcionalidades que já existiam no mercado e que foram bem melhoradas no novo ChatGPT.
Fica óbvio que a guerra entre as principais produtoras de Inteligência Artificial ganhou uma nova frente de batalha: a de aplicativos que facilitam e resolvem problemas enfrentados cotidianamente pelas pessoas (as que têm dinheiro para possuir e acessar essas ferramentas, é claro). Essas aplicações de governança doméstica podem se tornar uma nova mina de ouro para quem as dominar. E nesse caso a produção de robôs com aspecto humanoide será outro mercado de potencial explosivo.
O uso da Inteligência Artificial está bem encaminhada no campo empresarial e corporativo, nas mais diversas áreas da economia. A batalha pela produção e posse dos streamings de jogos, séries e filmes está se tornando uma disputa voraz pelo controle das plataformas e produtoras já existentes no mercado.
A Microsoft tem sido a maior beneficiária, pois ao associar-se com a OpenAI, de Sam Altman, pegou um cavalo de corrida treinado e selado, enquanto Alphabet e Meta, que apostaram em soluções próprias continuam comendo poeira e queimando gordura com penduricalhos nos produtos antigos. A Apple parece ter mantido a aposta em aparelhos de “interface” interativos e a Amazon, ao que tudo indica, vai mesmo preferir lidar com venda de produtos alheios e logística.
Contei a “estorinha” no começo do artigo pois é uma realidade que não está longe de nossos dias. Sim, logo teremos uma IA capaz de fazer a governança da nossa vida particular. E depois de mais algum tempo, com certeza, existirão robôs capazes de fazer quase tudo, namorar inclusive. Com a vantagem, ou desvantagem, sei lá, de virem equipados com botão de liga-desliga.
Semana que vem volto para falar de outra coisa que nós mais velhos achávamos que nunca iríamos ver: carros voadores. Só que sim, vamos ver. A estreia do carro voador brasileiro já está marcada para, no máximo, 2026. A fabricante Embraer já tem mais de 780 encomendas firmes. Até lá.