Singularidade, Inteligência Artificial, Meta Realidade: o que são essas coisas tão faladas hoje em dia? -Publicado no jornal Tribuna Ribeirão em 17 de fevereiro de 2023
Autor: Luiz Paulo Tupynambá
Nos últimos tempos, quando surge uma brecha na confusão política em nosso país, temos ouvido falar sobre Inteligência Artificial, Meta Realidade, ChatGPT, algorítimo inteligente e tantos outros substantivos e adjetivos, sobre os quais, a maioria das pessoas está como o caviar do Zeca Pagodinho… “nunca vi, nem provei, eu só ouço falar…” Vamos tentar, em uma série de textos que publicaremos a partir de hoje, mostrar um pouco desse “caviar”, pelo menos no que concerne ao mundo tecnológico de hoje.
Começamos com ao Advento Tecnológico Digital (eita!). Basicamente é a denominação criada para explicar o desenvolvimento e crescimento das tecnologias digitais e seus impactos em nossa sociedade. A partir do surgimento dos computadores, lá na década de 40 do Século XX, a computação digital vem transformando os relacionamentos econômicos e sociais da Humanidade, impondo mudanças comportamentais às pessoas em todo o planeta. A Tecnologia Digital surgiu para auxiliar os cálculos matemáticos nas universidades, mas inclui hoje smartphones, computadores, a internet, as redes sociais e recentemente acrescentou a utilização da Inteligência Artificial, trazendo consigo a realidade virtual aumentada, a Internet das Coisas. A tecnologia digital provou um tsunami em todas as áreas de atividades econômicas, sociais e culturais.
Me permita uma pergunta: “o que diferencia os seres humanos das outras espécies e nos fez dominantes sobre todas as outras no Planeta Terra?”. Qual seria sua resposta?
Se respondesse que é a capacidade de idealizar e produzir ferramentas (lembra do filme “2001, Uma Odisseia no Espaço”?), com certeza você está enganado. Na verdade, o que nos diferencia das outras espécies é a capacidade de legarmos nosso conhecimento para a geração seguinte. Ou seja, temos a habilidade de transmitirmos o que aprendemos em nossa existência para nossos filhos, sobrinhos, netos. Estes, por sua vez, tomam esse conhecimento, acrescentam os novos conhecimentos que adquirem em suas próprias existências e repassam esse conteúdo enriquecido para a geração seguinte, que repetirá o processo. Assim nós acumulamos conhecimento e vamos acrescentando mais conhecimento a cada geração. Podemos chamar esse processo de Inteligência, que é a capacidade de adquirir, compreender e aplicar conhecimento, resolver problemas, compreender ideias complexas, aprender rapidamente, aprender de experiências, entender instruções abstratas e interagir de forma eficaz com o ambiente.
No início dos tempos esse processo era oral. Através da fala e dos gestos os mais jovens aprendiam com os mais velhos. Mas tinha alcance limitado, era preciso estar sempre por perto do mais experiente para aprender. O surgimento da escrita, uns dez mil anos atrás, permitiu uma difusão, ainda que limitada, maior do Conhecimento. Não era mais preciso ser membro de um grupo restrito para adquirir o Conhecimento acumulado. Outro grupo, em qualquer lugar ou mesmo numa época posterior teria acesso ao Conhecimento escrito em um papiro, pergaminho ou um tijolo de barro. O grande passo seguinte foi o surgimento da prensa de Gutenberg, que multiplicou a capacidade de reproduzir o conhecimento e compartilha-lo, eliminando a copiagem manual. A difusão do livro e da leitura pela Europa dos séculos XVII e XVIII, proporcionada pela invenção de Gutenberg, foi a multiplicação dos “pães da inteligência” (os livros) e a grande responsável pelas mudanças políticas e econômicas no mundo, moldando-o para aquilo que é hoje. Assim como os pães alimentam o corpo, o livro alimenta a alma. O livro permitiu que milhões de pessoas comuns tivessem acesso ao Conhecimento. Assim é até hoje.
Já disseram que o ouro compra exércitos, o ferro faz o aço para fabricar canhões e o petróleo move navios e aviões de guerra; quanto mais os possua, melhor será. Mas, na verdade, o grande poder está no Conhecimento. Impérios cairam e culturas desapareceram, por não saber ou não permitir que o conhecimento se transformasse em um bem durável, evolutivo e transmissível. Sem ele nações foram dominadas e muitas outras também serão no futuro. Mas quando se fala em posse do Conhecimento e Inteligência no século XXI, temos que incluir na equação a tecnologia digital, e a inquietante disponibilização do Conhecimento não só para humanos, mas também para as “máquinas”, na nuvem digital. Praticamente tudo o que o ser humano produziu, das cavernas até o último milésimo de segundo que acabou de acontecer. Este texto incluído.
O futuro começa a cobrar do presente uma definição: quem será dono do conhecimento, o Homem ou a Máquina? O que pode acontecer depois da Singularidade Digital? No próximo texto abordaremos estes assuntos que, você pode ter certeza, serão colocados na mesa de debates daqui a pouquíssimos anos.
No próximo texto abordarei o surgimento e desenvolvimento da Inteligência Artificial, as novas tecnologias por ela disponibilizadas e a crescente pressão que seu uso exerce sobre os relacionamentos econômicos, políticos e sociais no mundo.
In memoriam de Paulo Moreira Camargo e Luiz Eduardo Garcia. Dois grandes amigos que deixaram de lado essas preocupações terrenas.