Com o Metaverso a imaginação e a vivência de experiências que extrapolam a mera realidade física se tornam uma nova e artificial “realidade”. Ou, como muitos a chamam hoje, Realidade Expandida.
Fechei o texto anterior parafraseando Shakespeare: “existem mais coisas entre o mouse e o monitor do que possa imaginar nossa vã filosofia”. Com o Metaverso a imaginação e a vivência de experiências que extrapolam a mera realidade física se tornam uma nova e artificial “realidade”. Ou, como muitos a chamam hoje, Realidade Expandida.
Isso baseado na concepção de uma realidade que se expande a partir da realidade material vivida por uma pessoa. Não, não são as Portas da Percepção, como as da metáfora imaginada por William Blake em seu livro “O Casamento do Céu e do Inferno”.
Também não é uma viagem lisérgica como as imaginadas (e vívidas) por Aldous Huxley, Timothy Leary e Jim Morrison. A expansão da realidade prevista no Metaverso é uma replicação virtual do mundo que nos cerca, acessada por alguns dos nossos sentidos, olhos, ouvidos, tato. Os cheiros e os sabores que poderíamos sentir no Metaverso ainda estão com suas interfaces em desenvolvimento.
Para interagir com essa realidade expandida, você terá que possuir alguns itens básicos. Provavelmente você já tem alguns deles e está familiarizado com seu uso. O primeiro deles é o meio de conexão com a internet, ambiente onde está o Metaverso. Um computador, um notebook, um tablet ou um “smartphone” resolvem isso. É necessária também uma conexão rápida, preferencialmente em 5G.
Também será obrigatório um óculos especial 3D, que não é aquele distribuído nos cinemas. Imagino que será fornecido a você no pacote de acesso ao mundo virtual da empresa que escolher. E claro, terá que pagar alguma coisa por ele. A Meta, sucessora do Facebook, lançou recentemente, o Quest Pro, que permite ao usuário interagir simultaneamente, no mundo real e no mundo virtual. O maior diferencial dele é sua capacidade de rastreamento ocular e de expressões faciais naturais. Com ele vem dois “mouses” que, na verdade, são sensores digitais e dos movimentos das mãos e braços. Outras companhias estão trabalhando em seus próprios modelos, com pequenas diferenças de desempenho e construção.
Aqui vou abrir um parêntese. A indústria de games está mais avançada que as big-tecs na tecnologia de interação de movimentos corporais com uma plataforma digital. Xbox One X, Playstation 4 Pro e outros já contam com recursos avançados de identificação de movimento para games. Mas, para o Metaverso, mais importante do que essa simples detecção de movimentos, é a interação humana. Quando duas ou mais pessoas interagem, o tom da voz, a expressão facial e o próprio movimento dos braços e das mãos são sinais comunicativos importantíssimos. No game o processo é de ação-reação num ambiente programado. No Metaverso o processo é de ação-interação, como é no relacionamento entre duas pessoas ou mais e não entre uma pessoa e um programa como é no game. Portanto, aqui temos a necessidade de uma interface mais poderosa, capaz de fazer com que a Inteligência Artificial incorporada no Metaverso seja plenamente utilizada.
Uma vez dentro do Metaverso você não precisará, por exemplo, falar uma segunda língua. Imagine que você fala somente português, mas precisa fazer uma reunião com uma pessoa que só fala mandarim. Neste ponto entra a Inteligência Artificial, que atuará como intérprete para que você consiga realizar sua reunião. Sabe aqueles aplicativos que você usa no seu celular numa viagem ao exterior? No Metaverso também vai ser assim, porém com a diferença sutil de a tradução ser praticamente imediata, sem necessidade de gravar sua frase e depois reproduzi-la na linguagem desejada.
Mas cuidado com as expressões corporais! O “jóinha”, “like”, ou seja, como você chame a mão fechada com o polegar estendido para cima, no Irã e alguns outros países do Oriente Médio significa literalmente “enfia…”. Então, como no mundo real, é melhor nos inteirarmos do significado de certos gestos comuns para nós brasileiros, mas que significam algo que pode ser ofensivo no país que vamos visitar. No real e no virtual, parcimônia no gestual e no verbal é bem-vinda.
Para frequentar o Metaverso, você irá “montar” o seu avatar. Já disse que avatar é um “bot”, uma representação virtual daquilo que você é ou como você se enxerga no mundo real. O termo “avatar” vem do sânscrito “avatára”, que significa “encarnação”. Na religião hindu é a manifestação terrena de um deus.
Vishnu é muito representado por seus avatares nos templos hinduístas, utilizando animais diversos para suas manifestações terrestres. Mas também pode assumir uma forma humana. Portanto, avatar na internet significa a sua representação pessoal, não necessariamente uma fotografia sua.
Pode ser um boneco, um cartoon ou um desenho 3D. Os filmes de James Cameron mostram isso de uma maneira bem clara. E vai ser com essa representação virtual que você irá interagir no Metaverso. “La plata”, o “din-din”, o dinheiro que você vai precisar para fazer as coisas lá, como viajar, comprar, alugar carros, etc., estará em sua conta em cripto-moedas.
Mais adiante voltarei ao Metaverso e todas as suas implicações econômicas, sociais e pessoais. No próximo texto voltarei um pouco ao tema Inteligência Artificial para vermos como isso está funcionando hoje. Veja como eu, com uma teclada, ganhei um Mestrado e um emprego de Professor Universitário no Rio de Janeiro. Pois é.